O Tempo
O tempo, esse velho domador de almas, anda por aí feito tropeiro antigo, carregando nas malas de garupa as lembranças que já viraram poeira, como as charqueadas que o vento levou junto ao eco do berro do boi perdido nas campinas. Ele passa faceiro, mas deixa rastro: marca o chão com as tropeadas que a memória insiste em não largar.
Há tempos que se calam, recolhidos no lombo da saudade, mas não dormem. Ficam ali, meio escondidos, ruminando vida. A gente pensa que se foram, mas basta um cheiro de campo, uma voz antiga, pra eles acordarem guasqueiros de competência, mostrando que o passado nunca abandona o rumo.
O tempo também mangueia a vida como quem aparta gado arisco: vai puxando daqui, largando dali, dando um jeito de ensinar sem pressa. E a vida, por teimosia ou sabedoria, aprende. Aprende que o próprio tempo é essa estrada longa, que não diz onde termina, mas segue firme, tempo adentro, campo afora.
As horas, essas éguas ligeiras, galopeiam sem olhar pra trás. Vão parindo auroras nos descampados do céu e a gente, no meio da lida, tenta viver cada passo, cada silêncio, cada pequena grande beleza que o dia oferece.
Há também o tempo de se entender gente, de compor os arreios do SER, conhecer o próprio peso e descobrir que amar é a doma mais difícil e mais bonita que existe. E que só aprende quem se entrega de verdade, sem esporas de orgulho.
E tem o tempo do cavalo, do tranco manso campeando os campos da existência. Nesse, somos apenas vassalos da vida, deixando que ele nos leve pelos atalhos e picadas que não enxergamos, mas que, de alguma forma, sempre conduzem ao que precisamos.
O tempo é agora. É aqui, nesse instante. Não dá pra ficar proseando demais com a indecisão, porque ele cruza incessante, como tropa estendida que não espera por ninguém. Quem vive o presente monta firme; quem não vive, só vê o poeirão sumindo no horizonte.
...O tempo passa tropeando, sem pedir licença,
feito peão antigo cruzando campo alheio,
leva na garupa lembranças, poeira e presença,
marca no chão da alma o rastro do seu meio.
Parece ir embora, mas fica em cada cheiro,
no berro distante que ainda chama a memória.
Ele mangueia a vida manso, sem grito nem açoite,
ensina no passo lento, na estrada sem final;
as horas correm ligeiras, parindo aurora na noite,
e a gente aprende vivendo o agora essencial.
Quem monta o presente segue firme no trilho,
quem espera demais só enxerga o poeirão sumindo...
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