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Arrastando Água e Vida
Por Administrador
Publicado em 23/11/2025 08:18
O Campo

Arrastando Água e Vida

Nas quebradas do pago, quando o sol amanhece quente barbaridade, a gente já sente no couro que a terra anda pedindo alívio. É aquele calorão, desses que fazem o horizonte tremelicar como se embaçasse a mirada de tropeiro cansado. O campo, sem um pingo de piedade, vai ficando amarelado feito o ar parecendo que ferve por cima das macegas.

Os poços, mostram o fundo antes da hora, e o açude da frente da casa vira quase um charco, onde até o sapo pensa duas vezes antes de atolar. A sanga velha, que sempre foi parceira nas tréguas do verão, torna-se um lamaçal.

É nessas horas que a gente lembra da cacimba escondida lá no pé da coronilha, um fio de vida guardado num canto de sombra. Ir até ela é quase um ritual dos antigos: ajeitar a pipa, e com petiço piqueteiro firmar o passo na trilha poeirenta e seguir no compasso da necessidade e da esperança. Cada ida parece puxar junto a alma da gente, como se a água soubesse que está carregando mais que refresco; leva junto a teimosia do vivente que não desiste.

E assim se vai: arrastando água como quem arrasta o próprio viver. A cada gole que chega, a casa respira, os animais agradecem, e o coração do peão aquieta um pouco. A água vai e volta, sempre cumprindo seu destino. A vida também vem, passa, recomeça. No fim das contas, é tudo um ciclo: a estiagem prova, a água salva, e o campo renasce, tal qual a gente, que insiste em florir mesmo no solo mais seco.

 

...A água escasseou no poço

No açude defronte as “casa”

Formou-se até um lamaçal

E a sanga velha ficou rasa

 

A salvação é a cacimba

Lá no pé da coronilha

Donde se arrasta água

“Despacito” pela trilha

 

Arrastando água e vida

Vida e água que passou

Água que chega e parte

Vida que se renovou...

Matéria: João Luís de  Almeida

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